sábado, 13 de janeiro de 2018

O livro errante


Sou chegado a uma tese. Mania de jornalista. Muitas vezes a realidade não colabora e a tese não se confirma. Agora na condição de cronista, devidamente publicado, reforcei a ideia – a tese! – de que escritor que se preza tem que ter obra nos balaios de ofertas da Feira do Livro de Porto Alegre, além de presença nas estantes dos sebos da cidade e ser vendido como usado pelas livrarias digitais. Já adquiri verdadeiras preciosidades nos balaios da Feira e depois que encontrei até best sellers  de Paulo Coelh nesses balaios, anunciados a  dois por R$ 15,00, tive a confirmação da tese.

Por  enquanto, galguei apenas dois degraus rumo ao reconhecimento a que almejam todos os que engatinham nas artes da escrita. Os livros  que escrevi ou participei  (Crônicas da Mesa ao Lado, Dueto e DezMiolados) podem ser encontrados em pelo menos três livrarias e numa delas (a Nova Roma, na rua General Câmara) dividem a vitrine de sebos com outras obras, a maioria de autores bem mais consagrados. Para mim não importa se as companhias são mais ou menos famosas: ali o que diferencia um livro do outro é o preço aplicado com post it nas capas. As capas, aliás, devem chamar a atenção de quem passa, como bem apregoa meu capista preferido, o Cézar Arruê. É o caso do Crônicas e do Dueto.

Agora descobri que também passei a fazer parte do circuito das livrarias digitais. Em pesquisa sobre outro  assunto acabei me deparando com a oferta do Crônicas  na Estante Virtual ( https://www.estantevirtual.com.br/livrariamosaico/flavio-dutra-cronicas-da-mesa-ao-lado-451984851). O livro é apresentado da mesma forma como o autor  se autodenomina - Seminovo/Usado -  e a origem declarada do exemplar é a Livraria Mosaico, de Porto Alegre. Não sei como o livro foi parar lá. Acho até que perseguir a trajetória  desse exemplar poderia resultar num bom conto. Daria o título de  “O livro errante”, que tal? Vai ver que o comprador original precisava de uma grana e acabou sacrificando o Crônicas e desfalcando sua biblioteca.  Gosto dessa  hipótese porque revelaria uma utilidade altruística para o livro, algo que o autor  jamais  imaginou ou sequer ouviu nas conversas da mesa  ao lado.

Vale  acrescentar a descrição do site para as condições do exemplar oferecido: "Bom estado de conservação, sem páginas sublinhadas ou danificadas. Acabamento: Brochura. Formato: Médio. Exemplar higienizado". O preço é  convidativo: R$ 15,00, mais R$ 6,21 pelo envio (o preço original era R$ 25,00)  e, veja só, pode ser parcelado em até12 x no cartão de crédito.

O  que me intriga ainda mais é  que existe um outro exemplar  oferecido no Sebo Fulô, em Santa Maria, a R$17,00 mais R$8,21 pelo envio ( aceita parcelamento em 12 x). Também desconheço como esse outro desgarrado Crônicas foi parar na Boca do Monte. Pode ser uma outra boa história a ser desvendada.

Sabem o que tudo isso significa: nada para a maioria ou a glória para um autor iniciante.



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