domingo, 22 de setembro de 2013

Tolerância zero

Está cada vez mais difícil ter opinião e expressá-la na rede.  Tem sempre alguém para contestar e te dar nos dedos e chutar as canelas. Não sou contra o contraditório, mas contra a obsessão pelo contraditório, o contraditório pelo contraditório, o contraditório para ser diferente e os contraditórios raivosos, tudo isso infestando a rede e baixando o astral.  Vale o mesmo para os que não suportam a mínima contestação e contra-atacam furiosamente.

Ao que parece não sou apenas eu que está incomodado. Tanto assim que circula no FB um banner que simula o final dos comerciais de remédios:  “O Ministério da Tolerância adverte: ter opinião contrária é motivo para ser ridicularizado em redes sociais”.  Essas sacadas bem-humoradas para demonstrar contrariedade funcionam mais e melhor que a agressividade.

Pensando bem, não dá pra condenar os opiniáticos da internet.  Vivemos um momento em que todo o mundo está  posicionado -  contra e a favor dos magistrados do STF, contra e a favor dos indiciados no mensalão, contra e a favor do PT,  contra e a favor da oposição ao PT e, mais recentemente, contra e a favor dos festejos Farroupilha, contra e favor da Siria,  contra e a favor da invasão de prédios públicos, contra e a favor de manifestações de pelados, enfim, contra e a favor de quem é contra e a favor.

Nós gaúchos até já devíamos estar acostumados a essa dicotomia, esse permanente Grenal,  esse eterno farrapos x imperiais, esse infindável maragatos x chimangos.  Ok, é  legado da nossa história e faz parte da nossa cultura, mas enche o saco.  E agora ainda inventaram os tais Embargos Infringentes pra começar tudo de novo.  Haja!  Daqui a pouco, fugar pras colinas será um dever.




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A vida como ela é

Encontro aquele amigo que tem fornecido ao longo do tempo farto material para o ViaDutra.  Quando digo farto material quero dizer que são histórias algo escabrosas. Como vivo numa crise permanente em busca de pautas sempre ouço com atenção o que ele tem a dizer.

Dessa vez a história envolve um cidadão bem colocado na vida, que procurou a matriarca da família e, aos prantos, revelou que tinha sido abandonado pela esposa,  bem mais jovem do que ele. Meu amigo foi chamado para apoiar o deprimido e dele ouviu coisas do arco.  “Ele me contou que tinha uma relação, digamos, aberta com a mulher e que avançavam em práticas sexuais pouco convencionais...”,  contou-me o parceiro, um tanto chocado com as revelações.

Mas a surpresa  maior estava reservada para a continuidade da conversa. “Ele me contou que apesar da vida prazerosa que levavam, sem restrições e com muito conforto, a mulher o havia abandonado...por outra mulher, e ele estava inconsolável.  Fiquei triste de ver  aquele pobre homem, sempre tão senhor de si, agora chorando convulsivamente”,  solidarizou-se meu amigo e eu imediatamente me senti também solidário.

Devo dizer que, diante desses casos, tenho um comportamento republicano e sustentável , seja lá o que isso significa, mas enfim, para dar sequencia à conversa,  perguntei  quais os atributos da ex do sujeito e aí eu é que fui surpreendido:  “Não é bonita, nem charmosa e intelectualmente deixa a desejar”, informou, para depois acrescentar – “Não sei o que viu naquela mulher!”

Foi aí que pensei cá com meus zíperes:  ‘deve ter qualidades outras que nem suspeitamos  para deixar prostrado assim um homem bem colocado na vida, deve ter’.  Que qualidades seriam essas, eis aí uma questão instigante.


sábado, 14 de setembro de 2013

Ah, eu sou Gaúcho!


* Postado originalmente em 20/09/2011

O chimarrão não faz parte dos meus hábitos. Jamais usei bombachas ou qualquer adereço gauchesco. A única vez que montei a cavalo quase me fui com montaria e tudo Caracol abaixo, em Canela. A vida campeira não me atrai e só uso faca afiada para a preparação do churrasco e nisso, modéstia a parte, sou competente. Ah, e não morro de amores pela Polar e por qualquer outro produto ou atitude que demonstre nosso ufanismo gaudério.

Esse distanciamento de algumas de nossas mais caras tradições e hábitos, tão exacerbados no 20 de setembro, não me tornam menos gaúcho do que o taura pilchado que desfila orgulhoso. Ainda me emociono com os acordes do Hino Riograndense e reconheço no cancioneiro do chamado nativismo jóias raras de poesia, que também mexem com a minha sensibilidade. “Guri”, de João Batista Machado e Julio Machado, é uma delas, de preferência interpretada por César Passarinho. Outro dia me deu nó na garganta na chegada da Cavalgada dos Mil Dias para a Copa, quando Elton Saldanha recebeu os cavalarianos entoando “O Rio Grande a Cavalo” - Lá vem o Rio Grande a cavalo/entrando no M'Bororé/là vem o Rio Grande a cavalo/que bonito que ele é.

É impossível renegar as origens e não ser contaminado pelo ambiente de exaltação do gauchismo que, registre-se, cresce como compensação, na medida em que o Rio Grande perde poder e espaço no contexto nacional. Talvez seja o momento de avaliar também porque um movimento que foi derrotado em armas, embora vitorioso na permanência dos seus ideais, seja tão exaltado e reverenciado, enquanto outros movimentos bem sucedidos, capitaneados por gaúchos, como a Revolução de 30 e a Legalidade, não tem o mesmo reconhecimento e a mesma força de aglutinação dos gaúchos. Estaria faltando um Paixão Cortes, um Barbosa Lessa e seus pioneiros da retomada do gauchismo para reconstruir esses momentos da nossa história e criar novas razões para nos orgulharmos?

Como História e Tradição escapam do meu campo de conhecimentos, repasso a questão para os especialistas, antes de reafirmar, com algum recato e muito orgulho: Ah, eu sou Gaúcho!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Duelo de titãs!

Não resisto e vou dar minha opinião sobre o affair David Coimbra x Paulo Sant’Ánna:  os dois tem razão e nenhum tem razão.  Briga de cachorro grande é assim e, em verdade vos digo, já testemunhei  -ás vezes apartei - muito enfrentamento de superegos.  Por mais de 20 anos trabalhei com as principais prima-donas do rádio e da tv  e nada mais me surpreende. 

Dia de divulgação de escala era dia de guerra, de choro e ranger de dentes na disputa dos melhores espaços nas transmissões.  Dia pós-jogo também era dia de guerra, de disputa de opiniões e de contraditórios não aceitos. 

Certa vez precisei retirar com rapidez um dos contendores da sala antes que recebesse uma máquina de escrever nas fuças.  Faz tempo, como se vê.  A coitada da máquina acabou espatifada no chão.  Tudo porque um havia contrariado a opinião do outro.  Em outra ocasião,  durante um Grenal, os contendores deixaram a cabine para ajustar as contas lá fora no corredor. Só não chegaram as vias de fato porque se deram conta do ridículo da situação. E voltaram à cabine onde se debicaram pelo restante da transmissão.

O que está em jogo nesses duelos de egos titãs é a briga pelos melhores espaços, a primazia da opinião, a necessidade de ser reconhecido, um tanto de preferência clubista interferindo  e uma grande dose de insegurança, que pode ser traduzida assim: “Se a minha posição é contestada é porque ela pode parecer frágil, então preciso reagir à altura”.  Pronto, tá feita a confusão.

E para isso vale tudo, especialmente em se tratando de adjetivos, vide os que o Sant’Anna tem usado contra o David e vice versa.  Interessante notar e isso é uma característica de tais desavenças é que nunca o adversário é citado, mas todo mundo sabe de quem se trata. Não deixa de ser divertido.  Também não falta quem se solidarize com um e outro e os que colocam mais lenha na fogueira.

No caso do Sant’Anna e do David não torço para ninguém.  Tenho afinidades com ambos, que fizeram parte da afamada e momentaneamente desativada confraria da Caveira Preta e considero-os os mais rodrigueanos dos nossos cronistas, tanto pelas temáticas de seus textos como pelo estilo, com aquele viés de dramaticidade, sem contar que os dois são tricolores como o grande Nelson Rodrigues.

Em reconhecimento aos dois  companheiros prefiro acreditar que a batalha da ZH é expressão do lado menos genial dos contendores, algo passageiro, embora reconheça que uma boa controvérsia exige talento e perspicácia, o que não falta nem a um  nem a outro. E vamos combinar:  o conflito, a divergência, o contraditório, esse é  o sal da vida.  Só não exagerem, rapazes.



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Goiabices

Meu bom amigo e talentoso  publicitário Alexandre Pradier  me cobra uma informação equivocada aqui no ViaDutra. Equivocada, mas passou batida por vários dias e inúmeros acessos, o que pode significar que o apreciado blog não está com essa bola toda. Sucede que no texto  “O pênalti” (postado em 29/06/2013), a propósito de me solidarizar com os desperdiçadores de pênaltis em jogos decisivos, registrei que Paulo Rossi havia perdido a última cobrança da Itália contra o Brasil, na final da Copa de 94 (Estados Unidos), garantindo o nosso tetra.  A falha é mais grave porque foi a única Copa em que participei no país sede, por isso o Pradier, de forma maliciosa, insinuou que talvez eu não estivesse realmente lá. 

Estava lá sim, sediado em Dallas com a equipe da Rádio Gaúcha, e lembro bem a  previsão do Ranzolin, antes da cobrança do pênalti italiano:  “Se o Baggio errar, não precisa mais cobrar! Se o Baggio errar, não precisa mais cobrar!”. O Baggio acabou chutando por cima e o resto da história é bem conhecido. Apesar de tudo, troque as bolas, ou melhor,  os nomes – o carrasco Rossi pelo benfeitor Baggio. Como pude?


A bem da verdade, sempre fui um prodígio de distração, mas ultimamente tenho me superado.  De devolver só as embalagens de filmes à locadora, sem o DVD, a esquecer de levar o cartão de crédito em viagem e passar vexame na  hora do checkout no hotel, depois de ter deixado documentos no banco do avião e voltar esbaforido para resgatar.  De perder as chaves do carro em lugar incerto e não sabido a deixar os óculos depositado em  cima de algum móvel e sair tapeando às chegas para encontrá-lo. Os celulares, coitados, já estão cansados de serem esquecidos na recarga.  O lado bom desse meu desligamento é que eventualmente  encontro alguma grana perdida nos bolsos de casacos. Até dólares já achei, mas nenhum montante que precisasse ser  jogado pela janela...
O nome disso tudo é Goiabice que é sinônimo de palermice.  Nem sei por que se associa a fruta aos nossos lapsos cotidianos, mas devo declarar que a cada dia fico mais Goiaba que no dia anterior. Só não vou me entregar de vez e garanto que alguma providência devo tomar e logo. Ou não me chamo mais Fábio Duarte.

 




domingo, 1 de setembro de 2013

No tempo das bandas marciais

Aproxima-se o 7 de setembro e me bate uma nostalgia dos tempos escolares, quando desfilávamos garbosos na Parada da Mocidade.  Os principais colégios públicos e particulares mobilizavam seus alunos para o grande dia,  um domingo pela manhã antes do dia 7 ,que era reservado para o desfile dos milicos.

Havia ensaios preparatórios e as grandes escolas passavam as semanas afinando os dobrados das suas bandas marciais que puxavam o desfile da gurizada. Lembro-me de um ano em que os alunos da quarta série ginasial do Colégio Rosário desfilaram pela avenida Farrapos de terno e gravata, sinalizando a formatura breve.  E lá fui eu, com meu surrado terno domingueiro, marchando nas primeiras filas, maldizendo quem tivera aquela ideia.
Havia uma saudável disputa entre as bandas marciais. A do Rosário competia fortemente com a das Dores, que sempre foi considerada a mais qualificada. Mas havia outras também afamadas como a do Colégio São João, a do Julinho,  até onde alcança a memória.

Na frente  de todas perfilava-se o Mor da Banda, uma espécie de maestro,  e eventualmente um naipe de alunas com suas sainhas, pernas de fora e acrobacias , imagens perturbadoras para aquele bando de adolescentes. Depois  vinham os instrumentistas  - muitos metais e percussão.  Os novatos começavam tocando pífaros, o que até tentei no Rosário,  mas descobri que não tinha a mínima vocação.  Foi uma pena, porque o pessoal da banda tinha algumas regalias, eram bem avaliados pelos professores e aqueles uniformes de soldadinhos de chumbo chamavam a atenção das meninas.  A mim restou o surrado terno domingueiro...

Hoje poucas bandas marciais resistem e até a chamada Parada da Mocidade se resume a uma aglomeração  de escolas infantis desfilando nos seus bairros, com muito entusiasmo e pouca produção visual. Não se fala mais em civismo ou patriotismo e até o termo Mocidade caiu em desuso, ficando restrito às escolas de samba ou segmentos jovens de alguns partidos.  Hoje a moda é falar em Geração X, Y, Z e não me surpreenderia se os desfiles voltassem a ser realizados e a gurizada passasse garbosa pela avenida tuitando seus IPads.
Sinal dos tempos,  de modernidade sem volta.  Mas permitam-me curtir minha nostalgia, de um tempo em que o grande dissabor do menino que um dia fui era desfilar com o surrado terno domingueiro.